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Hoje estaríamos comemorando nosso segundo aniversário de casamento. Apesar da imensa gratidão que temos um pelo outro por sermos parte de um relacionamento tão precioso em nossas vidas, hoje não estamos celebrando.
Porque hoje, pela terceira vez nesta semana volto do hospital. E não há nada mais a fazer a não ser aceitar a perda do nosso primeiro bebê.
A dor, o desolamento, a imensa tristeza têm devastado nossos dias, nossos planos, nossos sonhos. A cada instante, a cada gota de sangue, a cada contração, perdemos alguém que há algumas semanas já havíamos acostumado a amar.
Não há muitas palavras que nos tragam muito conforto, não há sequer uma intenção minha de procurar compaixão aqui. Por isso peço, encarecidamente, que nos poupem de comentários sobre adoção, que ainda somos novos, que o feto era muito novo, que isso acontece, que ainda era muito cedo, porque não, não é isso que queremos ouvir neste momento, nem é isso que vai nos fazer sentir melhor.
Se hoje escrevo aqui algo tão íntimo e delicado e pessoal, é porque é simplesmente impossível deixar de pensar, lamentar e viver o que estamos passando.
Estamos vivenciando nosso luto e não sabemos quando ou se um dia essa dor vai mudar. No entanto, no dia do aniversário do nosso casamento, podemos ter a certeza de que atravessamos uma fronteira em nosso relacionamento. E quem passa por essa fronteira nunca mais é o mesmo. Estamos mais unidos que nunca, estamos mais forte individualmente apesar da imensa perda que despedaçou nossos corações. Mas estamos juntos, repartimos agora essa mesma perda, em iguais pesares, em nossa vida em comum.
Por muito tempo escrevi aqui como a vida vinha se apresentando, com bons e maus momentos, com relevos e planícies, com sorrisos e lágrimas. Como em todo livro, como em toda estória, há sempre um conflito, um drama que enriquece a trama, o ápice da crise.
E neste momento, alcanço esta fase da minha vida escrita aqui. E em como todo bom livro (porque, afinal, eu espero que minha vida tenha sido uma boa leitura até aqui) há sempre aquele momento em que a gente precisa descansar o livro, colocar um marcador na página e refletir em tudo o que foi lido. Meu momento de fazer isso chegou nesta página.
Aqui coloco meu marcador. Não sei quando volto a escrever aqui. Não sei quantas páginas mais serei capaz de escrever depois do conflito. Mas agora tudo o que posso pensar é em respeitar nosso momento de luto, de desilusão e já de tantas saudades.
Que o nosso pequeno, a quem chamávamos de Little M, vá voando feliz para o céu, de onde irá acompanhar nossas vidas aqui na Terra.
Vá Little M e seja feliz com o amor tivemos e que sempre teremos por você. Já sentimos muitas saudades e nunca, jamais esqueceremos de ti.
"Would you know my name
If I saw you in Heaven?
Would it be the same
If I saw you in Heaven?
I must be strong
And carry on,
'Cause I know I don't belong
Here in Heaven.
Would you hold my hand
If I saw you in Heaven?
Would you help me stand
If I saw you in Heaven...?
I'll find my way
Through night and day,
'Cause I know I just can't stay
Here in Heaven.
Time can bring you down,
Time can bend your knees.
Time can break your heart,
Have you begging please,
Begging please...
Beyond the door
There's peace I'm sure,
And I know there'll be no more
Tears in Heaven..."
Márcia, a dor é de vocês, mas aqueles que te acompanham, como eu, gostariam de se solidarizar com vocês..